Polícia começa a cercar os manifestantes no ato agora!

Em caminhada para o Palácio do Bandeirantes, a tropa de choque parece cercar os manifestantes na Av Morumbi. O intuito é barrar a passagem das 5 mil pessoas e fazer com que apenas uma comissão se dirija ao Palácio. Estamos negociando a passagem de todos neste momento.

Este é um chamado para que todos se dirijam ao ato!

 

Os mortos


os mortos vêem o mundo
pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
       certas sinfonias
                 algum bater de portas,
       ventanias

           Ausentes
           de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
           se de fato
           quando vivos
           acharam a mesma graça

                
Ferreira Gullar
De Muitas Vozes (1999)

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One Response to Polícia começa a cercar os manifestantes no ato agora!

  1. Jurgen says:

    A crise na USP apresenta os mesmos elementos de ação e reação aos atos dos poderes constituídos que se podem observar na sociedade civil. E mesmo as opiniões acerca da greve e da ocupação da reitoria apenas comprovam a nossa perspectiva.

    Com efeito, se por um lado temos os que se opõe à ocupação e a greve, entendendo que esses atos estão eivados de ilegalidade e ilegitimidade, por outro assistimos a uma defesa ensandecida de uma certa cultura universitária que revela, também, uma relação diferente com a res publica. Para os primeiros, todo aquele que desobedece a uma ordem legal e legítima deve ser considerado como um insurgente, um rebelado, alguém a quem não se pdoe atribuir humanidade, dado o caráter irreverente e ultrajante que toda insurgência comporta. Para os segundos, seria ilegítimo não denunciar veementemente o desrespeito do administrador público contido em ato normativo que não contém nenhum dos elementos constituintes da legitimidade axiológica da legislação coerente com a Carta Magna: para eles, a própria defesa dos valores implicados nas letras da Lei Maior não poderia deixar de usar de certo vigor, uma vez que parece pressuposto e real o direito natural de ir contra a lei positiva quando esta discorde dele.

    Duas concepções, portanto, de res publica. Para os primeiros, é esta o bem do povo, e dela são tutores aqueles eleitos precisamente para o zelo, a tutela e a administração daquilo que é publico, cabendo mesmo a estes magistrados (e aqui enfatizo o termo latino) definir conceitualmente o que venha a ser o bem público, desde que em uma certa consonância com aquilo que o povo entende por seu. Para os segundos, os “violentos”, a sociedade não precisa necessariamente de tutores que determinem e ordenem os caminhos a serem seguidos pelos passageiros do navio. Mas concordam que é preciso administrar o bem público e de um modo que não ofenda a axiologia implicada nos atos normativos fundados em doutrinas cujo horizonte construído é tão belo como a luz do sol. E esta queima a vista, quando a olhamos de frente e de perto.

    Dessa forma, entre aqueles para quem os caminhos de ferro estão devidamente trilhados e para o qual basta rumar, com trabalho, humildade, resignação, esforço e um pouco de molejo, e aqueles para quem cabe à sociedade tecer reflexões sobre o melhor a se fazer em cada situação, orientando-se sempre pela axiologia constitucional, olhando sempre para um horizonte cada vez mais no além, não há harmonia nem tolerância, mas somente a raivosa face da iracúndia e do medo, que se travestem de palavras rebuscadas e de pensamentos sutis, dialeticamente forjados, sem que a resolução das circunstâncias férreas e dolorosas do “desfavorecimento social” seja removida um único milímetro de sua posição secular.

    Para os que se digladiam, há somente o possível: ou a vitória, gloriosa, retumbante, capaz de espezinhar desenfreadamente o vencido; ou a derrota, amargurada, gélida, lamuriosa e sombria, em que o envilecido, em tudo, sente o pé pisante do conquistador. Sim, a nossa Política não aceita outros termos para sua definição. Ela, a deusa brasileira cujo lado negro da força não deixa de ocultar a face terrível, não nos deixa senão a opção de optarmos por um dos lados acima descritos, não havendo nesta terra diabólica, em que as bacantes flertam a todo tempo com o Salvador, possibilidade de felicidade que já não tenha sido programada para nós, os ermitões.

    No entanto, nada é mais nefasto para a cidade, mais adverso ao axiologicamente legítimo, mais desumano e anticivil do que, em uma república composta pelas virtudes dos homens e constituída pelas instituições geradas como reflexos destas, agir pela força.ATÉ AGORA, NEM O MINISTÉRIO PÚBLICO, NEM A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA FEZ QUALQUER ACENO, NEM DEU A ENTENDER QUE AGIRÁ CONTRA ESSES ATOS QUE FEREM A REPÚBLICA NO CORAÇÃO. É porque essas instituições, infelizmente, e para infortúnio da cidade, esqueceram. e não fazem questão de recordar, a causa mesma que as gerou.

    Assisto à morte de uma leprosa chamada São Pauloç observo cada minuto de sua decomposição e de sua falta de vontade para recompor-se. Por isso, surgimos, do ventre civil, do útero citadino, nós, os ermitões. Para assistirmos aos jogos que Politikhé se oferece, ao manipular marionetes que, qual gladiadores, apesar de livres, insistem em se apresentar no Coliseu, mansão derradeira do desumano, do ignorante, do férreo e do forte.

    Nâo sei quando se é menos violento no reino de Politikhé.

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