Carta à Ocupação (por F. P.)

Há hoje, vigente na USP (Universidade de São Paulo), um movimento de importância muito maior do que, talvez, imaginem seus integrantes.
Quantas vezes não ouvimos, com certa razão que concordamos, reclamações de que o brasileiro é subserviente, que aceita tapas na cara de gente ínfera, quando muito, ficando calado? Quantas vezes nossa juventude, ainda com verdade que nos fazia vontade de também falar, foi rotulada de hedonista, irresponsável e individualista? Quantos "se fosse no meu tempo…" ou "na minha época isso não acontecia…" ouvimos e nos envergonhamos?
Eis que a mão, novamente, foi levantada. Mas, dessa vez, o rosto quente espelhou a dor. O coração, pulsou. A dignidade gritou. Mobilizaram-se. Soergueram-se. Revoltaram-se. E, ainda assim, recebem o olhar torto da sociedade que condenava seu ostracismo. São os ossos do ofício.
Mas esta carta tem um objetivo: demonstrar apoio à ocupação e às pertinentes reivindicações do movimento estudantil.
Parece ser um postulado o fato de que uma nação bela só faz-se com um povo desenvolvido, que por sua vez, só pode existir através de uma educação de qualidade e popularizada. A educação pública é para o brasileiro o que Moisés foi para os israelitas. Porém, ela tem sido, historicamente, mantida encarcerada, presa às correntes da má vontade política interesseira. Não pôde exercer, até hoje, seu papel de nos conduzir à Palestina. Por isso, o brasileiro submerge-se na escravidão contemporânea como se fosse parte constituinte de seu corpo, como se expressasse a condição única de vida humana.
Então, alunos da maior universidade pública do país, "privilegiados" com o ingresso em uma das últimas referências internacionais em conhecimento e produção científica do Brasil, resolvem esquecer-se de toda essa baboseira de "contente-se, você estuda de graça." e sair à luta para que mais pessoas possam desfrutar desse "privilégio" e mais, para que a possibilidade desse desfrute seja universal a todos os brasileiros.
Reformas, melhorias, ampliações, democracia e autonomia. O que parece fim, é, em real, meio. Meio para alcançar algo maior, um sonho no qual essa juventude pode agarrar-se. O sonho de marcar, ainda que somente com as iniciais, seu nome na construção de uma revolução no ensino e na produção intelectual. O sonho de uma universidade de qualidade voltada para os interesses da sociedade e não de políticos situacionistas ou empresários capitalistas. O sonho de uma universidade ligada aos desejos e necessidades do povo. Conectada ao ensino básico, fazendo justiça aos mais aplicados alunos, sejam eles negros, brancos, morenos, mulatos, índios, orientais ou qualquer outra etnia ou classe social.
Por isso a Ocupação tem vida. Por isso o movimento angaria apoios diversos. Porque é contra a lógica de que todos devemos consumir tudo. O saber não é para ser consumido. É para ser absorvido. Por todos e por tudo, inclusive por um prédio de Reitoria.
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2 Responses to Carta à Ocupação (por F. P.)

  1. Tchelauskas says:

    Excelente esse texto!
    Acho importante passar mensagens positivas, no sentido de não somente responder aos textos contrários à ocupação e a greve, assim como aos artigos enviesados da mídia, mas sim passar o ponto de vista dos estudantes e suas conquistas. Mostrar o que de fato vocês estão buscando e os novos caminhos que estão abrindo.

    Graças a esse movimento as pessoas acordaram para ver os decretos que estavam prontos antes de o governador assumir o cargo, pois o governandor não chegou no gabinete no feriado de 1 de janeiro e falou: hum a primeira coisa que vou fazer são decretos sobre a universidade pública.
    Decretos não passam pelo legislativo nem pelo debate com a comunidade universitária, tão pouco com a sociedade como um todo. Daí vemos a linha da “democracia” do atual governo, que não se reflete somente na universidade, mas em várias outras questões de interesse público.
    Mostra que a sociedade, a paulistana e a brasileira como um todo, tem que abrir os olhos: por um lado para ver de fato como o atual governador exerce seu poder, o que está propondo e fazendo, já que está claro que tem intenções de ser presidente da república e por outro, a forma como as questões de interesse público têm se desenrolado no cenário político em todo o país.

    Além disso é importante o que vocês levantam sobre a crítica de que o povo brasileiro não faz nada.
    Me espanta os comentários no ônibus, na mídia, nas ruas, conversas de bar… muita gente criticando a ocupação e a greve.
    Um exemplo foi a manifestação de ontem! Todos temos o direito de manifestar nossa opinião publicamente, tínhamos o direito de seguir a marcha até o Palácio dos Bandeirantes, mas claro, não fomos autorizados, a polícia bloqueou a marcha, exatamente para culpar os envolvidos com a greve pelo caos no trânsito da cidade, mas a mídia não diz que se o governador não tivesse proibido o ato, nada disso teria acontecido, além de ter violado nosso direito de expressão e liberdade de ir e vir. Assim como se o governador não tivesse decidido decretos de cima para baixo, a ocupação e a greve também não teriam acontecido.

    É impressionante, criticam que o brasileiro não faz nada e quando as pessoas decidem fazer algo, dão a cara a tapa e põem a mão na massa, reprimem esses anseios.
    Que sociedade queremos? Deixar tudo na mão dos governantes?
    Já está mais que claro que se não houver pressão e participação popular não vão resolver os problemas da sociedade.
    Gosto da frase: direitos não são dados, são conquistados!
    É isso que esse movimento na USP está mostrando e conseguindo.

    Por outro lado, há muita gente apoiando as manifestações da USP, que enxergam a importância de trazer o debate para a esfera pública. Não é um diálogo secreto ou restingido à universidade, ultrapassou de longe os muros da instituição, atingiu outras universidade do país e agora está em todas as mídias, está aí para quem quiser discutir e participar.

    Parabéns estudantes que lutam pelas coisas que acreditam, que mostram que nem tudo é fatalidade no Brasil, que nem tudo acaba em pizza e que as pessoas podem fazer as coisas acontecerem.

  2. João Pedro de Sá says:

    Vocês estão mostrando o caminho.

    E pouco a pouco, muita gente está entendendo. Até os radicalmente contrários ao movimento de vocês (nosso movimento, se me permitem) têm uma virgulazinha no peito que os incomada certamente: alguém acordou do entorpecimento, um grito quebrou a afasia. “Ocupa”.

    Esse grito está ecoando e latejando na cabeças de milhares de estudantes de todo o país. “Ocupa”… “Ocupa”.

    Acredito ser uma questão de tempo pra que o eco se materialize num novo grito.

    A coisa mais linda do Brasil hoje é a Ocupação da USP.

    E olha que eu sou carioca, então pra dizer uma coisa dessas é porque de fato o é!

    =)

    Todo apoio e amor à Ocupação da USP!

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