USP UMA LICAO DE LUTA QUE TEM O TAMANHO DO BRASIL

USP – UMA LIÇÃO DE LUTA QUE TEM O TAMANHO DO BRASIL De Laerte BragaUm aluno do segundo ano do curso de História da USP levou a mãe para visitar a reitoria ocupada da Universidade. Mostrou que os banheiros estavam limpos, que não havia drogas, que os jardins de tão bem cuidados receberam elogios do jardineiro responsável. A mãe de Luís, nome do estudante gostou do que viu.Um antigo militantes dos tempos que José Serra foi presidente da UNE espantou-se com a ausência de rock and roll , drogas e sexo. O movimento não tem a cara de nenhum partido, acusa as lideranças estudantis de negociarem por baixo dos panos com a reitora e se volta contra o decreto do governador José Serra que retira a autonomia das universidades estaduais no manejo de verbas consignadas no orçamento estadual.É a mão direita do tucanato. Está visívelO movimento acabou por estender-se para além dos limites da reitoria. Hoje desperta atenção de todo o País. Numa certa medida tem impedido que as distorções do que de fato acontece sejam corriqueiras na mídia. Nem mesmo a GLOBO, apesar de tentar de todas as maneiras, tem conseguido rotular os estudantes com o velho epíteto de "baderneiros".José Serra está numa encruzilhada. O governador acha que é Deus, confunde truculência com eficiência, e neste momento percebe que em sua arrogância insensível comprou uma grande confusão.Vários campi de universidades estaduais já estão em greve, o movimento se alastra entre servidores e professores e os ultimatos têm sido renovados desde segunda-feira. A reitoria já perdeu o controle e a autoridade sobre o que quer que seja, tamanha a subserviência ao governador e a Polícia aguarda a tal hora de invadir e cumprir um mandado judicial de reintegração de posse.Os estudantes que ocupam a sede da reitoria da USP conseguiram varar a fronteira da desinformação. Numa certa medida e guardadas as devidas proporções o movimento traz algumas lembranças de 1968 na Europa, sobretudo na França. Há grupos de limpeza, de alimentação, de segurança e até o cigarro é proibido em áreas internas. Quem quiser fumar tem que fazê-lo em áreas abertas.A estrutura de resistência guarda semelhanças, também respeitadas as proporções, com a organização da guerra do general de campo Nguyen von Giap (Ago), o grande comandante militar do Vietnã contra os então norte-americanos.Essa forma de luta ano passado surpreendeu o exército de Israel. Em julho quando anunciaram um ataque em massa contra o Hezbollah acabaram tendo que recuar e a única massa foi o recuo.Não existem caras visíveis entre os estudantes, as lideranças se manifestam em assembléias o que faz com que as decisões sejam sempre coletivas.O resultado disso? Uma bananosa sem tamanho para José Serra. Acostumado a não ser contestado, agindo de modo presunçoso, arrogante e autoritário, Serra mostra a sua mão direita, fascista e tucana.Não sabe como fazer para justificar o decreto fascista em que o seu governo se apropria dos recursos das universidades estaduais e começa o arremate do caminho para a privatização dessas instituições.O mercado como dizem.De repente seres humanos reagem e recusam a se deixar transformar em seres/consumidores, pior, instrumentos do grande capital internacional. A educação voltada para as vitrines dos caras que acham que o mundo se resume a robôs e a viver e trabalhar, cada um se virando e reagindo de um jeito num contexto de farsa, corrupção e violência, de aceitação. Existe o que faz, existe o que deixa.Serra não contava com isso. O antigo líder estudantil deixa visível a imensa contradição que existe entre um passado trocado pelas benesses do poder e a luta pela sobrevivência de valores que nem Serra e nem a reitora da USP sabem mais o que é.A reitoria da USP ocupada é um instante de extraordinário vigor do movimento estudantil e se estende como lição e exemplo a todo o conjunto de forças que lutam contra o modelo falido e corrupto de gente como Serra.Ao lado da questão política, a existencial, que também é política e não se curva a essa conversa de pesquisa para desenvolver um papel higiênico ideal. Ou uma caçapa que absorva todas as bolas da corrupção na sinuca podre do bom mocismo que apenas esconde a verdadeira face dessa gente.Hoje, 23 de maio, o País assiste a manifestações pela reforma agrária. Protestos contra a política econômica do governo Lula. A mostra viva que lutar é possível e que o modelo não deixa alternativa que não a mostrada pelos estudantes que ocupam a reitoria da USP. Ou pelos trabalhadores e camponeses que ocupam ruas em várias cidades do Brasil.É uma reação ao projeto Roça de Cana que joga o Brasil de volta ao século XIX, e consagra o mundo de plástico nas chuvas de pastas da hipocrisia dita institucional. Transcende aos limites da reitoria da USP. Ou das praças, avenidas e estradas onde acontecem as manifestações.Na USP os estudantes tocam músicas de Raul Seixas, o "Apesar de Você" de Chico Buarque de Holanda, e o hino da resistência em 1968 – "para não dizer que não falei de flores – de Geraldo Vandré. Ecoam por todo o País, onde ainda existam corações e almas dispostos a sobreviver à avalanche da violência e da barbárie capitalista.Os estudantes que ocupam a reitoria da USP são a mão da liberdade e da característica humana que, pelo menos em tese, existe em cada um de nós. Foi por isso que o estudante Luís levou a mãe até lá. Para mostrar que saída existe.Se a Polícia invadir, é possível, esses caras raciocinam com a borduna, haja visto o que está acontecendo no Rio e foi denunciado pela Anistia Internacional (935 mortos pela violência desde 1º de fevereiro), o movimento permanece.O que se vê é apenas a mão direita de José Serra. Do tucanato. E ainda quer ser presidente. A verdade é que presidente, governadores, prefeitos, executivos de empresa, diretores de arapucas, hoje, são apenas domadores que pela via do chicote tentam intimidar e calar pessoas e suas consciências. A grande jaula do mercado.O movimento dos estudantes é maior que eles e a própria USP. Tem o tamanho do Brasil.

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