Caro Sr. Ombudsman,Escrevo para protestar sobre a maneira como o assunto sobre a ocupação da USP foi tratado pela Folha na sua edição de sábado, dia 19 de maio de 2007.Fica clara a postura tendenciosa do jornal contra o movimento estudantil, sobretudo pela publicação do artigo de Paulo Sampaio na pág. 3 do caderno Cotidiano. A página seguinte da edição, mostrando uma opinião contra e outra a favor da ocupação, não consegue restaurar a imparcialidade: as duas opiniões ocupam um espaço ligeiramente superior ao artigo mencionado na página 3. Independentemente da quantidade de palavras, o conteúdo do artigo de Paulo Sampaio compromete definitivamente o nível do debate.Paulo Sampaio ridicularizou os estudantes. O jornalista escolheu a dedo suas palavras para diminuir o conteúdo político do movimento, como se fosse possível fazer isso escarnecendo vestimentas, gírias, aparências. Tudo indica que Paulo Sampaio, ou mesmo a Folha, esforçando-se para confirmar um juízo prévio, fizeram uma pesquisa enviesada. Fecharam os olhos ou procuraram indícios do que queriam ver nas aparências."Durou menos de uma hora, mais foi proveitosa a visita à reitoria da USP." Daqui depreendemos que o comportamento dos estudantes é previsível e simplório a ponto de ser passível julgá-lo em pouco tempo. Não sou eu que digo ser o tempo pouco, repare, mas sim o próprio jornalista. Prefiro acreditar que o pouco tempo foi suficiente para confirmar as opiniões prévias do jornal, eis o ato falho."A sensação é parecida à de uma das crianças premiadas para visitar a fantástica fábrica de chocolates Wonka." Assim o jornalista ridiculariza o controle de entrada do prédio, que justificadamente deve limitar aos estudantes a participação em um movimento que é dos estudantes. O controle de entrada deve existir para que as decisões tomadas sejam posteriormente defendidas com coesão frente à sociedade, evitando ser julgadas precipitadamente pelas discenções saudáveis oriundas do processo de discussão, discenções estas que ofereceram material suficente em todos os sentidos, para que Paulo Sampaio enxergasse apenas aquele que desejou. Por fim, o controle de entrada do prédio também faz-se necessário para preservar as instalações da reitoria, que, com excessão do portão de entrada, estão intactas. Eis algo que o jornalista olhou mas não viu.A visita do repórter é desprovida de mérito: ele mostra, ao longo de todo o texto, que só olhou para a aparência das pessoas, das gírias e das vestimentas. Mais do que isso, ele só olhou para a aparência de certas pessoas, pois poucos dos estudantes lá presentes poderiam ser qualificados de "chineludos", vestindo "gorros de tricô furado, paletós do papai", e "dreadlocks".Paulo Sampaio não disse nada de substancial quanto ao teor das discussões. Novamente baseado em aparências, em trechos que conseguiu ouvir durante o pouco tempo em que esteve lá, insinuou juízos de valor, como quando, no começo do texto, antes de entrar no prédio, ouve "conversas de onde escapam palavras como ´condução´, ´discurso´, ´sociedade civil´." Afinal, o que o jornalista ouviu? Não sabemos.Apenas sabemos que para ele, as palavras que ouviu soaram como escapadas, eis a insinuação. Além disso, salientando as gírias, ridicularizou as falas dos estudantes, aludindo talvez a uma crença de que usar gíria necessariamente denota falta de poder de escolha, excesso de determinação pelo grupo.Sou arquiteto e estudante recém-ingresso na segunda graduação pela mesma instituição. Não tenho uma opinião formada a respeito da greve dos estudantes, mas participei de alguns debates e assembléias, onde conteúdos políticos de fato foram debatidos por pessoas com as mais variadas aparências. Inclusive funcionários da USP estavam presentes.Estive em algumas discussões, como muitos outros estudantes que também trabalham, vestindo camisa e sapato, se é que isso, NECESSARIAMENTE, importe em alguma coisa. Falo pouca gíria, se é que isso, NECESSARIAMENTE, importe em alguma coisa. E enfim, quanto a isso, evitemos injustiças: Paulo Sampaio também não disse que, NECESSARIAMENTE, usar gíria e ser "chineludo", importa em ter opiniões desqualificadas. Ele apenas insinou isso, o que é incrivelmente pior.Eis um posicionamento mais justo da minha parte.Faço votos de que o Sr. Mário Magalhães, Ombudsman da Folha, manifeste-se a este respeito.Agradeço desde já pela atenção,Vinícius Spira.
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