Universitários alemães visitam a Reitoria Ocupada. Alerta de Milton Santos: “Esse é o problema: opor à crença de que se é pequeno, diante da enormidade do processo globalitário, a certeza de que podemos produzir as idéias que permitem mudar o mundo”

Sabemos que as reformas universitárias são uma tendência mundial, e não é só aqui no Brasil, por ser um país periférico, que tem-se a tentativa de tal sucateamento da educação. Hoje recebemos na Reitoria Ocupada a visita de dois estudantes da Alemanha. Perguntamos a eles se conseguiram conter as reformas universitárias de lá, responderam que não. Agora, precisam pagar pela universidade, por exemplo, menos em Berlim. Entretanto, frisaram que a luta continua. Quando as reformas foram anunciadas, eles saíram pelados pelas ruas, durante dois dias, como forma de protesto. Será que ocupar a Reitoria não teria sido uma melhor iniciativa?

ALERTAS DE MILTON SANTOS, DADOS EM FEVEREIRO DE 2000

SOBRE A GLOBALIZAÇÃO (NA VERDADE, GLOBALITARISMO):

“ A globalização conseguiu materializar a metafísica, mediante o papel desempenhado pela ciência e pela técnica na produção das coisas. Há uma materialização física e uma realização primitiva, embora sofisticada, da ideologia. Tudo é ideológico. Estamos dentro de um mar ideologias. Tudo é produzido a partir de uma ideologia, mas as coisas não aparecem como tal. Somos cercados por coisas que são ideologia, mas as coisas não aparecem cmo tal. Somos cercados por coisas que são ideologia, mas que nos dizem ser a realidade. Isso nos constrange, porque forma um sistema muito forte; e qualquer discussão que indique ser aquilo ideológico é desqualificada.”

SOBRE O GLOBALITARISMO E A UNIVERSIDADE:

Estou querendo chamar a atenção para o fato de que a atual globalização exclui a democracia. A globalização é, ela própria, um sistema totalitário. Estamos em um mundo que nos reclama obediência. Uma frase que se ouve com grande frequência, quando reclamamos de algo é: 'O senhor é o primeiro a reclamar'. Vocês nunca ouviram isso? Há um totalitarismo na vida cotidiana, que inclui o trabalho intelectual. Não é só no trabalho não-intelectual, não é só na fábrica, que o totalitarismo está presente. Também no chamado setor de serviços. E a universidade é um exemplo formidável desse totalitarismo. Todos os dias somos solicitados a cumprir os regulamentos, as normas… Mas é exatamente a norma que se opõe à essência do trabalho intelectual. Sem contar que rompe com a liberdade do professor decidir o que é mais conveniente ao seu magistério. E tem-se isso a cada momento, em tudo. Há, portanto, um novo totalitarismo que, todavia, se apresenta como convite a fazer as coisas bem-feitas, ordenadas. É um ritmo infernal que se impõe. Olhem o que se passa na política. No caso do Brasil, por exemplo, o discurso do chefe da nação, deveria se pedagógico. E, no entanto, o nosso chefe da nação diz que todos os que não pensam como ele são canalhas, burros, estúpidos, vagabundos, não admite nenhuma discrepância com o que ele próprio pensa. É a eliminação do debate. O pensamento único é a prática da política e da convivência coletiva marcada por esse 'faça assim, faça de tal forma, senão está tudo errado'. É a consideração simplória da técnica como absoluto, como norma – o que é próprio do nosso tempo -, levando à propensão de utilizar um mandamento técnico como se fosse um mandamento político, cultural, moral, religioso. É o fim da crítica e da autocrítica.”

“ Acho que o que conduz a esse ritmo hegemônico é a idéia de competitividade, que é diferente da competição capitalista, e que só se tornou possível nesta época, não era possível antes. Então ainda não se conhecia o mundo direito, não tínhamos o domínio da velocidade e os mercados eram relativamente regulados pela política nacional. A competitividade impõe o reino do fugaz, cria uma tensão permanente, que leva a esse atordoamento geral em que vivemos. Essa competitividade, possibilitada pelas atuais condições objetivas, é resultado da perversidade da globalização, e a única solução que parece viável é ir remando também. Quando um jovem opta pela competitividade como norma de vida é sociologicamente possível compreender, porque isso lhe aparece como a única defesa possível num mundo que não é nada generoso. É preciso mostrar-lhe que há outros caminhos, ainda que difíceis ou pouco conhecidos.”

SOBRES REFORMAS/SUCATEAMENTO NA EDUCAÇÃO:

“Quando o Ministéiro da Educação, no final de 1999, indicou as linhas mestras do novo ensino técnico, praticamente suprimiu o ensino de humanidades. Dessa forma, criaremos robôs, não propriamente cidadãos pensantes. E eu não vi reação. E por que nós não reagimos?

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